quinta-feira, 25 de março de 2021

POEMAS DE BOURNEMOUTH

 

POEMAS DE BOURNEMOUTH

e eu bebo veneno pelos olhos
quando vejo a tua forma de partir
que ela se torna numa larva preta
a espuma do mar fervente em cada mão
o desiderato rumo dessa casa feita
a linha errada em cada palma, o não
estarmos à roda desfibrada estreita
limita o mar que nos fareja o cão.
distúrbio funcional, minha malignidade
espectro desse quarto quando um morto
vagueava entre vivos a nos aterrorizar
humores, forma aquosa, vítrea,
e cristalina capa de estampadas letras.
eras superfície, punção, a gata morta
no leva e traz das ondas da maré
marco divisório de teus passos.

(Bournemouth, UK, 19 de agosto de 2007)

os dias se arrastam, lentos
as noite se sucedem, escuras
e frias
neste quarto de hotel.

muitas vezes pensei em sair
em ver o mar na noite fria,
mas me recolho cedo
encapsulado
em recordações

o mundo não está
nem lá fora
nem aqui dentro

o mundo não está



(Bournemouth, UK, 15 de agosto de 2007)

à medida que envelheço
vou ficando
como minha avó

à medida que envelheço
mais vou tendo
minha avó no espelho
(Bournemouth, UK, 14 de agosto de 2007)

todas as coisas se parecem contigo
[passo a ver-te em cada dobrada lua]
nada me afastará de ti, pois estás em todas as coisas
onde o olhar
onde há olhar
onde olhar

ver quero ver-te
mas só consigo ouvir-te
há uma canção que me embala
e me adormece

não te tenho perto
tão perto
nem durmo contigo

mas não faz falta
o amor se espraia para sempre

no ar

(Bournemouth, UK, 13 de agosto de 2007,
às 21:20).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

uivo longo noite escura vento

 


uivo longo noite escura vento

uivo longo noite escura vento

uivo longo noite escura vento
o vento evoca suas vozes
longas e ecos cavernas fundas
por que parece que morri?
uivo longo, muitas vozes
silenciadas
madrugada escancarada
prata ouro lanterna mágicas
calma nos arredores e arrepio
uivo longo na murada
volto a sonhar

ROGEL SAMUEL

SEU POEMA

 seu poema está imerso

nessas ondas do fundo
que confundem são gavetas
são marcas dágua
são dunas de um outro mundo
são gravações agravadas
onde o poema dorme, gravado
mas solto, engavetado
mas aéreo, eu disse
que essa sua nova fase
de sua poesia vai ser gravada
nas ondas desse mar
desse colorido mar
nas ondas do fundo da memória
desses computadores-leitores
a cores
ou leitores em preto e branco
e agora
em ondas vermelhas pretas e azuis
concentradas
concêntricas
fecundas
postadas
gravadas
água
água e areia
água
tinta de cor de água
água e tinta de água e cor
ROGEL SAMUEL