terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Há muito tempo vejo nos ares - Rogel Samuel


Há muito tempo vejo nos ares - Rogel Samuel


Há muito tempo vejo nos ares
um surto sons perfumes luminosidades
perto de todos e das coisas.

Há muito tempo surto. Me iludo.

Há muito tempo invoco os desconhecidos deuses.

Estarei só? Os deuses me voam no espaço.

Há muito tempo não estou só.
Refiro-me a esses deuses, que imagino. Nesta sala.

(rogel samuel, 02.05.09)

MAR

Mar



onde está, onde
onde está no horizonte
onde está o destino
por onde se vai nesta barca
por onde navegar assim
neste mar de incertezas
neste caminho sem pista
se por que vagueamos em claros
na grande muralha de atalhos
perdidos labirintos
pássaros de bicos frios
flores de asas mortas
e em embrulhadas falas
mulheres e homens nas tramas
de suas rotas?

A velha casa e seus poemas: Rogel Samuel e Jefferson Bessa

A velha casa e seus poemas: Rogel Samuel e Jefferson Bessa

O poeta Rogel Samuel escreveu:

A meu poema "casa abandonada", o poeta Jefferson Bessa escreveu uma resposta:

casa abandonada (Rogel Samuel)


as janelas estavam assassinadas
assistiam a tudo
ao mar, às aves, à montanha
nunca mais fechadas
fecundas de vento
arrebatadas de sol
batidas pelo firmamento
e as janelas nunca mais se fecharam
porque não havia ninguém mais lá dentro
porque os poros da casa se abriram
às verdejantes trepadeiras
que cobriam todo passado

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Esta casa (Jefferson Bessa)


Esta casa é
O abrigo do poema.

E respiram as paredes
A verde-planta do tempo.
Crescem por sobre a casa
O olhar presente do passado
De entre-ver nossas janelas
Que não se trancam mais.
Por lá não ter ninguém
É que elas me olham.
Por nenhuma noite mais
Fecharei minhas cortinas.

Este poema é
O abrigo desta casa.


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Minha resposta (Rogel Samuel)


Por lá não há mais ninguém
nesta casa abandonada
nem os fantasmas esguios
nem as fadas enamoradas
nem mendigos nem ninguém
mesmo o tempo por lá não encosta
mesmo as recordações se desfazem
as memórias as cansadas
naves da madrugada
cinzas do que passou
solidão das marés
esquecimento e silêncio

POEMA

para Jefferson Bessa


seu poema está imerso
nessas ondas do fundo
que confundem são gavetas
são marcas dágua
são dunas de um outro mundo
são gravações agravadas
onde o poema dorme, gravado
mas solto, engavetado
mas aéreo, eu disse
que essa sua nova fase
de sua poesia vai ser gravada
nas ondas desse mar
desse colorido mar
nas ondas do fundo da memória
desses computadores-leitores
a cores
ou leitores em preto e branco e agora
em ondas vermelhas pretas e azuis
concentradas
concêntricas
fecundas
postadas
gravadas
água
água e areia
água
tinta de cor de água
água e tinta de água e cor

***

Jefferson Bessa escreveu:


nossas águas-palavras (para Rogel Samuel)


palavra úmida
em palavra água
gravada em seiva
em leitura água-viva.

palavra-ondina
amistosa fluvial.
é nossa face que vibra
por entre a tela líquida.

letras postadas
móveis nos corpos
na confluência de ondas
escritas, magnéticas.

é tinta de olhos
pela entre-onda
muito atenta e diluída
que ondula o poema.

transforma-se o amador em terrorista

transforma-se o amador em terrorista
e sua inês fálica na pista
em seus braços onde levará?
interdita por preservativos
sua beatriz de amor armada
quando ama mata o amado
punhal pelúcia escondida
eles se encontram na vida
com amor com ódio com cida
maquilagem fementida
salto alto escorregadia via
no vão da escada se masturbam vivos
gameta estrela circunstância pia
nos cines pornôs e hotéis baratos
eles se ajoelham escondidos.
suas crianças desde que perdidas
tão perigosas assaltantes nuas
à noite transadas pelas ruas
por milicianos que a querem vivas
contaminadas nas suas mágicas rotas
de polícias especializadas
no desejo na espera e nessa dor
erotizadas dos primeiros gozos
postais sextantes dessa corja aziaga
de escória e de glórias clandestinas
guirlandas estupradas nesses montes de lixo
de restos de hospitais a flor da morte
(dia virá em que os amantes
serão caçados a bala)

minha identidade se perde em tua id: um poema de Rogel Samuel

minha identidade se perde em tua id: um poema de Rogel Samuel


minha identidade se perde em sua id
e me perdi ali, que dissolvido
estou no ser amado em seu destino.
que se me vejo no reflexo de seus versos
já dividido sou nos seus espelhos
nem busco estar no todo de suas partes
mas no dorso, em procurando
a casa inteira dei-me conta
que só de números me inscrevo
e recebo identidade e assim percorro
os seus ombros, os seus pelos, o lenho exposto
sobre os anelados dos cabelos
e a linda curvatura do pescoço.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

museu de pedra

museu de pedra

museu de pedra

são de pedra as tuas vestes
o teu blusão é de aço
como teu músculo macho
e de bronze as tuas pernas
e de ouro os teus cabelos alados
que da matéria vital
é tua palavra o teu laço
mas tuas mãos sobre mim
são suavíssimas flores
palco de teus amores
linhas do teu pomar