segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

CARNAVAL



CARNAVAL


ROGEL SAMUEL


NUM carnaval livro que me faz pensar a morte.

Um livro amarelado, de latim.

Sim, porque é carnaval, nós pensamos muito, ao som daquela batucada.

A muito antiga recordação me chega pelos blocos de sujos, pelas máscaras da morte. Seus corredores.

O desfile. Longe. Seu rebolado, ouço.

De seus batuques o bulir.

De seus reco-recos a tamborinada batucada.

O desfile segue, na direção da morte.

Da Matriz? Do Congresso?

Do princípio ou do fim?

Nítido já não está seu quadro mágico.

No escuro da esquina o grupo some.

Roda o tempo, mergulha, abissal grito de dor.

Corta a espada o sonho antigo.

Personagens, fantasias saem pela porta que sempre esteve ali, aberta, mas disfarçada. Vestidos de mortos. Da morte.

A uma quadra dali, estala o balaco-baco do quadro carnavalesco.

É onde estive.

Onde sempre estarei.

Outra face.

Olímpico, Rio Negro.

As fantasias esgarçadas, esmaecidas.

Pulsa o sangue novo dos viventes mortos.

Transparentes véus se abrem de onde saem as festas. Fadas, prestidigitadores, coreógrafos, mandarins, camélias.

Um raio de serpentina luminosa atravessa o ar, desenrola seu puro ouro.

De dentro do salão tudo brilha como cristal.

O salão espelhado do Clube. Faz tudo girar. 
 
É redondo.

Das lança-perfumes o perfume o ar.

Oh, Camélias de minha vida, reapareçam!

No chão súbitas estrelas lancinantes caem e abrem seus cortinados de papel crepon.

Quem nunca pensei rever, agora está ali dançar.

O Sílvio me acena, cantando, rebolando, gestualizando, do fundo de seu passado.

Sapateado Maloca dos Barés.

Todos ali se afastam das mesas nas fantasias de si mesmos.

O rei Momo e sua corte avança, na alegoria da vida.

Não o reconheço.

Ele prospera ali.

Vem do luar um halo da mágica fala branca que atravessa o vácuo da noite.

A festa goteja, se afasta.

No céu se faz um súbito silêncio.

Brutal surdez cristaliza mundos estelares.

Onde, ó Amada, estão eles?

Não ouso pronunciar seus nomes.

Para onde foram, foliões?

O desfile entra no vale das sombras.

Alegria se desconstruindo, fazendo-se distante e silenciosa.

No afastado em vão os chamo.

- Não me deixem, ó Brinquedos! Não atravessem este rio. Voltem para seus barcos.

......

A vida desfila carnavalesca. Alegres, cantantes, fantasiados, mascarados, palhaços. Mergulham na morte. O vento.

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